O Netflix tem um problema: a internet. Ela é livre demais. E tanta liberdade só tem um significado para os estúdios de Hollywood, os principais parceiros do serviço de streaming: treta.
Hollywood quer que o serviço seja mais seguro, que você não possa de forma alguma gravar filmes para o seu próprio computador. E o Netflix quer que os estúdios fiquem felizes. Ou seja…
Acontece que a W3C, que cuida dos padrões da internet, tem uma solução. No fim do ano passado, a organização presida por Tim Berners-Lee (ninguém menos que o criador da web) aprovou a inclusão de DRMs (tecnologias de proteção de diretos digitais) nos padrões do HTML5, código que deve ser a base da construção da web pelos próximos anos.
Batizada de Encrypted Media Extension (EME), a proposta foi desenvolvida por engenheiros do Netflix, com gente do Google e da Microsoft, como um padrão para distribuir vídeos codificados na web. Ou seja: é bem provável que as próximas versões do Internet Explorer e do Chrome já venham preparadas para você navegar pela Hollyweb, mas com travas relacionadas ao consumo e manipulação de mídia.
Pra ver como o papo é sério, no dia 9 de janeiro, o blogueiro Cory Doctorow, que é editor do Boing Boing e um influente ativista a favor da liberalização dos direitos autorais, fez um dos posts mais bad vibe da história. “Por mais que eu tente, não consigo afastar a sensação de que 2014 é o ano em que vamos perder a web”, ele escreveu. E quando ele diz web, ele quer dizer a principal ferramenta de acesso à rede atualmente, os navegadores.
O canadense acredita que com o Google e a Microsoft na jogada, mesmo os navegadores alternativos como o Firefox vão ser compelidos a irem pelo mesmo caminho. “Todos no mundo dos navegadores estão convencido de que não apoiar o Netflix vai levar à marginalização total”, afirma. “Eu acho que pode ser game over.”
Outro blogueiro influente no mundo da tecnologia, Mike Masnick, do Tech Dirty, escreveu sobre o tema no dia 15. Mike também acha a decisão da W3C estúpida, embora seja um pouco mais otimista. “A história do DRM mostrou, mais de uma vez, que ele é destruído em questão de minutos depois de lançado.”
A questão maior por trás de tudo é: por que a W3C está tentando proteger os estúdios de Hollywood? Como bem disse Mike no seu post: “a internet não foi construída para ser o próximo meio de difusão dos blockbusters de Hollywood. Ela foi construída como uma plataforma de computação e comunicação.”
E o que importa (o que deve importar) na web são as pessoas.
A discussão é cabeça, mas se você curte o Netflix e sua liberdade de ver filmes e séries como quiser, vale se inteirar da polêmica!